NOTÍCIAS
26 DE MAIO DE 2022
Dia Nacional da Adoção: homenageados defendem tornar processo mais inclusivo e solidário
O Dia Nacional da Adoção, celebrado nesta quarta-feira (25), foi marcado no Senado Federal pela homenagem a pessoas e instituições que desenvolvem iniciativas para agilizar a adoção de crianças e adolescentes fora do perfil procurado pela maioria das famílias. Durante a solenidade da primeira edição do Prêmio Adoção Tardia, os participantes defenderam a transformação da cultura do processo adotivo no Brasil de modo a torná-la mais inclusiva e solidária.
Na avaliação do senador Fabiano Contarato (PT-ES), autor do projeto de resolução (PRS 35/2021) que criou a premiação, o sentimento de constituição de família não conhece classe social, cor ou orientação sexual. Para ele, que também recebeu a homenagem e por várias vezes foi às lágrimas durante a sessão, a formação familiar é aquela em que se semeia e colhe amor. No entanto, ele alertou que o preconceito tem emperrado o andamento da fila de adoção no Brasil.
O senador, que é casado com Rodrigo Groberio com quem tem dois filhos por meio de processo de adoção, relatou que teve a dupla paternidade negada pelo Ministério Público, quando o promotor da vara da infância e da juventude, naquela ocasião, não reconheceu sua união homoafetiva, o que foi posteriormente revertido pelo Tribunal de Justiça. Além disso, ele argumentou que critérios estabelecidos por muitos adotantes, como idade, sexo, cor da pele, cabelo e olhos têm dificultado as ações de se encontrar uma família para muitas crianças e adolescentes. Ele defendeu a transformação dessa cultura por meio do combate ao preconceito.
— Sabemos que há uma proporção enorme de pessoas habilitadas a adotar. Porém, as restrições relacionadas a idade, cor, condição física pesam de tal maneira que jogam as estatísticas da adoção para baixo. Preconceitos de toda ordem disseminam-se pelo nosso tecido social, mas políticas públicas de reparação das injustiças e da desigualdade servem de contrapeso. Congregar esforços, agir coletivamente, buscar apoios, romper resistências, tudo isso patrocina a causa da adoção, que depende enormemente da maneira como a sociedade lida com os preconceitos, com a intolerância, com o ódio — afirmou.
Nessa primeira edição do prêmio, foram homenageadas quatro instituições: Grupo de Apoio à Adoção de Belo Horizonte; Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, pelo projeto Em Busca de um Lar; Tribunal de Justiça do Espírito Santo, pela Campanha Esperando por Você; e Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, pelas iniciativas Projeto Dia do Encontro, Projeto Busca-se(R) e Aplicativo Adoção. Além desses, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, decidiu conceder a comenda ao senador Fabiano Contarato em reconhecimento a sua atuação em defesa do tema.
Ao entregar o prêmio, Pacheco agradeceu as contribuições de Contarato na apresentação e defesa de proposições que visam a tornar o processo de adoção mais simplificado, célere e menos burocrático no país. Ele ainda destacou a evolução de normas legislativas para acelerar a busca ativa e a efetivação, principalmente, daqueles atores que estão na fila e enfrentam maior dificuldade para encontrar uma família. No entanto, alertou que além de aprimorar o instituto jurídico da adoção, é fundamental ações de conscientização que sejam capazes de transformar a cultura de adoção no país a tornando mais justa e inclusiva.
— No movimento de mudança do perfil dos adotados, sobressai o desafio da adoção tardia, o desafio da colocação familiar de crianças parcialmente desenvolvidas, menos dependentes, muitas das quais já ingressaram na fase da pré-adolescência; crianças que não têm as características tradicionalmente desejadas pelos adotantes e, por isso, correm risco de envelhecer, de serem esquecidas nas instituições de acolhimento; crianças com chances reduzidas de adoção em decorrência do sexo, da etnia ou da cor da pele; crianças de características incompatíveis com o tipo idealizado, infelizmente ainda predominante na cultura da adoção, bebês recém-nascidos, do sexo feminino, de cor branca — observou.
Ainda de acordo com Pacheco, quase 9 mil crianças estão atualmente disponíveis para adoção ou em processo de adoção no Brasil.
Humanização
Kênya de Carvalho, que é assistente social e responsável técnica pelo Grupo de Apoio à Adoção de Belo Horizonte, classificou a homenagem como um grande reconhecimento e estímulo ao desenvolvimento desse tipo de trabalho que envolve uma rede de profissionais e voluntários. Para ela, é uma oportunidade também para alertar sobre a necessidade de se humanizar mais esse processo.
— A Lei que nós temos hoje, o Estatuto da Criança e do Adolescente [Lei 8.069, de 1990], tem um texto muito bem escrito, é muito bem formulada, e nós só precisamos fazer com que aquilo funcione em termo de prazo e, principalmente, precisamos priorizar as crianças e os adolescentes não em detrimento de uma família biológica que violou o seu direito, mas precisamos sim cuidar dessas famílias biológicas enquanto assistência social, para que elas sejam funcionais, porém mais com um olhar asseverado ali para a criança e para o adolescente e, principalmente, olhando os prazos. A criança cresce muito rápido — declarou.
Já Helerson Elias Silva, da Comissão Estadual Judiciária de Adoção do estado do Espírito Santo, do Tribunal de Justiça do mesmo estado, disse que a Campanha Esperando por Você nasceu pela identificação das dificuldades de se encontrar famílias interessadas em acolher crianças com um perfil de idade superior a três anos. De acordo com ele, o projeto tem avançado e conseguido alcançar o objetivo de conscientização e humanização dos pretendentes. Até agora, segundo ele, a ação já recolocou 28 crianças e adolescentes no seio familiar.
— Quando começamos essa campanha de adoção, lá em 2017, tínhamos estes perfis de criança que eram difíceis de conseguir adoção: crianças mais velhas, grupos de irmãos, crianças com alguma doença ou deficiência. E tínhamos uma criança em especial para a qual já há dois anos procurávamos família e não conseguíamos. E a gente pensou que, nessa campanha de adoção, se a gente conseguisse adoção para essa criança, já teria valido a pena. Graças a Deus, conseguimos adoção para esta criança e para mais 28 – adolescentes de 16 anos, grupos de três irmãos, crianças com doenças, deficiências –, sendo que não conseguíamos, de maneira nenhuma, adoções para esses perfis — relatou.
Papel da Justiça
A presidente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, desembargadora Iris Helena Medeiros Nogueira, lembrou que o Poder Judiciário não pode se limitar apenas ao julgamento de processos. Para ela, é preciso estar cada vez mais conectado com as demandas e a realidade da sociedade na busca de soluções, como é o caso da adoção tardia de crianças e adolescentes.
— Exemplificando com dados do Rio Grande do Sul, há atualmente 3.686 pessoas habilitadas para adotar, ao passo que existem 317 jovens aptos à adoção, evidenciando-se, assim, a necessidade de estimular a mudança de perfil preferido por aqueles que pretendem adotar. Por meio do Aplicativo Adoção, do projeto Dia do Encontro, agraciado com o Prêmio Innovare e do Projeto Busca-Se(R), o Tribunal de Justiça gaúcho tem buscado conectar histórias de vida e viabilizar a adoção tardia, a fim de que crianças, adolescentes com mais idade, com menos expectativa de serem adotados, sejam acolhidos por um lar — acrescentou.
O juiz da Vara da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF), Renato Rodovalho Scussel, que recebeu a comenda pelo projeto Em Busca de um Lar, parabenizou a ação do Senado. Na visão dele, o reconhecimento vem no sentido de quebrar paradigmas e demonstrar a necessidade do envolvimento de várias frentes para atender as demandas específicas que a adoção tardia exige. Ele observou que o processo de adoção no Brasil não é demorado, porém, segundo ele, o que dificulta é todo momento que antecede o início do procedimento formal.
— O processo de adoção é mais rápido do que nove meses, que é o período de gestação de um filho. Entretanto, o que é difícil é efetivamente chegar ao momento do processo de adoção (…) é justamente o processo de destituição do poder familiar, as crianças que ficam ainda nos abrigos e essa eternização do processo de acolhimento. Então, é esse olhar específico que a gente tem que ter e aqui realmente, ressaltando a adoção tardia, eu acredito que nós vamos chegar — avaliou.
A iniciativa ainda foi elogiada pelos senadores Lazier Martins (Podemos-RS), Zenaide Maia (Pros-RN) e Jaques Wagner (PT-BA). Eles reconheceram a liderança de Contarato no desempenho de ações e aprovação de projetos no Congresso Nacional com o objetivo de assegurar os direitos básicos ao cidadão e, principalmente, na busca incansável de assegurar a convivência familiar a crianças e adolescentes.
— O Senado, num momento como este, numa sessão desta, em homenagem ao Dia Nacional da Adoção, vem mostrar a necessidade do amor ao próximo. Isto é ser cristão: amar ao próximo. E eu acho que não existe um ato maior de amor ao próximo do que adotar uma criança. Aquela que está, como se diz… Ela tem amor a oferecer. E nessa luta nós vamos continuar — concluiu Zenaide.
Outras Notícias
Anoreg RS
04 DE NOVEMBRO DE 2022
O desafio de interligar o Sistema Eletrônico de Registros Públicos (SERP)
Com a evolução tecnológica, as atividades notariais e registrais precisaram adaptar seus atos e serviços para o...
Anoreg RS
01 DE NOVEMBRO DE 2022
Premiação nacional do PQTA 2022 acontecerá no dia 06 de dezembro
Cerimônia acontece em Brasília de forma hibrida
Anoreg RS
01 DE NOVEMBRO DE 2022
Quais são os direitos na união estável em caso de separação?
Advogado explica como fica a divisão de bens nesse tipo de união – e orienta como casais podem prevenir...
Anoreg RS
01 DE NOVEMBRO DE 2022
Artigo – Há distinção entre união estável paralela e famílias paralelas/simultâneas?
A questão é tão polêmica que a sentença, atenta às peculiaridades do caso concreto, reconheceu a união...
Anoreg RS
01 DE NOVEMBRO DE 2022
Artigo – Responsabilidade dos notários: o melhor de dois mundos
Referida regra é definida pela doutrina como responsabilidade objetiva da administração pública, na modalidade...